Produto da realidade
Amante da imaginação
Deusa-mãe do inatingível
Promotora da paixão
Refletida em espelho plano
Imagem é abstração
Distorcido submundo
Poder anti-social
Terrorismo de estado
Horror multinacional
Prenúncio da besta-fera
Imagem neoliberal
Alguma coisa entre folhas
Pouca coisa que restou
Recortes, figuras, estampas
Que um tempo não levou
Enigmática recordação
Imagem que retornou
Distorção vetorial
Enquadramento galopante
Distância multiprismática
Acelerada cor errante
Modelo imóvel e deslocado
Imagem pop delirante
Adeus planos sonhos mil
Que ridícula saudade
Relembrando o futuro
Perdida felicidade
Você vai desaparecer
Imagem da eternidade
Expor a indignação
Criar o nada e persistir
Desfocar a explosão
Mostrar os dentes sem sorrir
Iluminar o obscuro
Imagem é não existir
Imagem do inconsciente
Imagem da televisão
Imagem que fazem de mim
Imagem da tua ilusão
Imagem do estabelecido
Imagem que nunca diz não
Do escuro ela nasceu
Que pensador te pariu?
Foi um ser inteligente
Ou um burocrata imbecil?
Sem remorço e indiferente
Imagem que você viu
Contemplar a tua alma
Ou alimentar o teu rancor
Imprudente e temerosa
Implacável e sem pudor
Eficiente e dinâmica
Imagem do teu amor
Ela vem a qualquer hora
Fustigar seu ideal
Perspectiva infinita
Ignóbil e mortal
Na Internet em vídeo plano
Imagem hiperdigital
O que é a imagem?
Grande interrogação
Uma tirânica fertilidade
Ou satânica sedução?
Maligna e benevolente
Imagem é criação
A luz do próximo dia
Resto da luz anterior
Velocidade e paralax
Luz de spot e refletor
Diafragma desmedido
Imagem e flash medidor
O limite é uma doença
Que leva pra sepultura
Vacina está difícil
A ciência nos tortura
Ser humano sem prazer
Imagem é amargura
No vão livre, no lago, no céu
Na sala, em frente ao altar
Na curva infinita da vida
No saguão amplo e lunar
Fora do alcance dos olhos
Imagem interestelar
A imagem surgiu e cresceu
Pra entorpecer seu coração
Modificar nosso caminho
Conter sua revolução
Aumentar a fome plena
Imagem da escravidão
Almas em papel brilhante
Guardadas na cristaleira
Em singelas caixas azuis
Em molduras de madeira
Recortes multifacetados
Imagens pela vida inteira
Parece que nada mais resta
Tudo explodiu foi pro ar
Uma miragem alerta
Que uma bomba vai falhar
De boca fechada ou aberta
Imagem vem perturbar
Translúcido vidro plano
Velhas cartas e postais
Fotografias expostas
Em galerias virtuais
Preto médio branco fosco
Imagens irracionais
Estacionado está em mim
Algo que nunca não vem
Crio nova melodia
Com a aparência de alguém
No lado escuro da mente
Imagem que me convém
A composição é paranóica
Em uma grande angular
Creio em uma nova verdade
Transparente e sem olhar
A toda a velocidade
Imagem do além-mar
Algo que toca a alma
Traz uma insônia sem fim
Um aborrecimento eterno
Numa tumba de marfim
Sem destino morto-vivo
Imagem que fica em mim
Coisas que são mostradas
Você até pensa em crer
Estranheza que envolve
Sempre em busca do prazer
Sonolência permanente
Imagem para não ver
Perpetua o presente
Em pontos entrelaçados
Posteridade imortal
Impressa em papel molhado
Sombras na contra-luz
Imagem do teu passado
Uma imagem mil palavras
Fusão multilateral
Pontilhismo em meio-tom
Contraste e brilho casual
Multiplicação constante
Imagem bidimensional
Aquilo que vejo agora
Guardo na minha lembrança
Tento não esquecer
Por que já fui criança?
Foto com data marcada
Imagem da esperança
Três por quatro na carteira
Um cachorro que já morreu
Um astronauta solitário
Ou um ser que não nasceu
Tua mãe em preto-e-branco
Imagem que retrocedeu
Capitalismo está com fome
Quer comer a humanidade
Forjar o belo pra você
Aumentar a voracidade
Agente do extermínio
Imagem da tua vontade
O homem não dá mais jeito
Não consegue dominar
Sua angústia sem controle
Não pode mais esperar
Sem razão e sem sentido
Imagem é linear
A imagem é para todos
Que são da quinta dimensão
Para executivos normais
E escravos de bom coração
Todos já podem se ver
Imagem da destruição
Luiz Carlos Marcelino Nunes
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